A vesícula biliar é um órgão localizado inferiormente ao fígado e sua função é armazenar bile e esvaziá-la para o intestino principalmente após uma refeição. Devido a um distúrbio dos compostos químicos presentes na bile, são formados cálculos no seu interior, conhecidos como “pedras na vesícula” ou Colelitíase.
Uma parte dos portadores de cálculos na vesícula são assintomáticos. Os pacientes sintomáticos podem apresentar dor na parte central superior do abdome ou no quadrante superior direito, a chamada cólica biliar. A dor é intensa e às vezes irradia-se para as costas. É frequente a ocorrência de náuseas e vômitos.
Além da cólica biliar, os portadores de colelitíase podem ter complicações mais graves como a colecistite aguda, que é a inflamação da vesícula. Os cálculos biliares podem migrar da vesícula obstruindo os canais biliares causando icterícia e as vezes pancreatite aguda, patologia de difícil controle.
A ultrassonografia do abdome é exame simples e eficaz para diagnosticar a colelitíase.
A colecistectomia laparoscópica é a cirurgia de escolha para tratamento da colelitíase. Através dela realiza-se a remoção completa da vesícula biliar com os cálculos no seu interior. São realizadas pequenas incisões na parede abdominal de aproximadamente 1 cm e com a utilização de microcâmera a vesícula biliar é retirada. Pouca dor pós-operatória, melhor resultado estético e retorno precoce as atividades do dia a dia são as maiores vantagens da colecistectomia laparoscópica.
A obesidade mórbida é o acúmulo excessivo de gordura no corpo, caracterizada pelo IMC maior ou igual a 40 kg/m². O excesso de peso, neste nível, coloca em risco a saúde e tende a diminuir o tempo de vida da pessoa. O primeiro passo para saber se uma pessoa é obesa mórbida é calcular o IMC, dividindo-se o peso (kg) pelo quadrado da altura (m2).
A causa da obesidade é uma associação de vários fatores:
• Consumo excessivo de alimentos calóricos, com alto teor de gordura ou açúcar;
• Sedentarismo;
• Distúrbios emocionais, que favorecem a compulsão alimentar;
• Predisposição genética, filhos de pais obesos tem maior tendência em serem obesos;
• Alterações hormonais, a causa menos comum, associada a algumas doenças, como síndrome do ovário policístico ou hipotireoidismo.
As principais doenças associadas a obesidade mórbida são a diabetes, a hipertensão arterial e os problemas articulares, além da apneia do sono e embolia pulmonar.
O tratamento clínico com alteração do hábito alimentar, exercícios físicos e por vezes o uso de medicamentos após avaliação do endocrinologista é a primeira opção contra a obesidade. Em caso de falha no tratamento clínico ou se este for ineficaz, deve-se considerar o tratamento cirúrgico. Os benefícios da cirurgia são a perda de peso, remissão das doenças associadas, diminuição do risco de mortalidade e melhoria na qualidade de vida.
A indicação cirúrgica deve ser baseada na análise de quatro critérios:
• IMC
IMC acima de 40 kg/m², independentemente da presença de comorbidades.
IMC entre 35 e 40 kg/m² na presença de comorbidades.
IMC entre 30 e 35 kg/m² na presença de comorbidades que tenham obrigatoriamente a classificação “grave” por um médico especialista na respectiva área da doença.
• Idade
Abaixo de 16 anos: exceto em caso de síndrome genética, quando a indicação é unânime, o Consenso Bariátrico recomenda que, nessa faixa etária, os riscos sejam avaliados por 2 cirurgiões bariátricos e pela equipe multidisciplinar. A operação deve ser consentida pela família ou responsável legal e estes devem acompanhar o paciente no período de recuperação.
Entre 16 e 18 anos: sempre que houver indicação e consenso entre a família ou o responsável pelo paciente e a equipe multidisciplinar.
Entre 18 e 65 anos: sem restrições quanto à idade.
Acima de 65 anos: avaliação individual pela equipe multidisciplinar, considerando risco cirúrgico, presença de comorbidades, expectativa de vida e benefícios do emagrecimento.
• Doenças associadas
• Tempo de doença
Apresentar IMC estável há pelo menos 2 anos e comorbidades em faixa de risco além de ter realizado tratamentos convencionais prévios. Além disso, ter tido insucesso ou recidiva do peso, verificados por meio de dados colhidos do histórico clínico do paciente.
São contraindicações a cirurgia da obesidade:
• Limitação intelectual significativa.
• Pacientes sem suporte familiar adequado.
• Quadro de transtorno psiquiátrico não controlado, incluindo uso continuo de álcool ou drogas ilícitas.
• Doenças genéticas.
Existem os procedimentos restritivos, que diminuem o volume gástrico e os disabsortivos que reduzem a capacidade de absorção intestinal. Há ainda as técnicas mistas. As cirurgias são realizadas por videolaparoscopia, com grandes vantagens na recuperação e retorno do paciente as atividades precocemente, menor risco de infecção e melhores resultados. O Bypass gástrico (técnica mista) e o Sleeve (técnica restritiva) são as cirurgias para obesidade mais realizadas.
As hérnias da parede abdominal ocorrem quando há protrusão de estruturas intra-abdominais através da parede abdominal, devido principalmente a fragilidade da mesma. Outros fatores contribuem para o aparecimento das hérnias, como o esforço físico em excesso, obesidade e a gestação. Existem ainda as hérnias congênitas, as quais a pessoa já nasce com elas.
As hérnias inguinais (na virilha) e umbilicais (cicatriz umbilical) são os tipos mais comuns de hérnias da parede abdominal. Existem ainda as hérnias epigástricas e incisionais.
A incidência de hérnias é maior nos homens. Com o passar dos anos e sem o tratamento adequado as hérnias inguinais podem evoluir para hérnias inguinoescrotais, ocupando também a bolsa escrotal.
Hérnias inguinais – hérnias da virilha
Hérnias umbilicais – hérnias na cicatriz umbilical
Hérnias epigástricas – hérnias acima da cicatriz umbilical
Hérnias incisionais – hérnias secundárias a incisões prévias
O principal sintoma relacionado as hérnias da parede abdominal é a dor local, principalmente durante a realização de esforço físico. Geralmente ocorre abaulamento da parede abdominal junto a hérnia. Alguns pacientes apresentam queimação no local. Nos casos mais graves, além da dor local pode haver náuseas e vômitos, dor abdominal tipo cólica e parada da eliminação de fezes e gases. Esse quadro sugere encarceramento ou estrangulamento da hérnia, e necessita avaliação médica imediata, com a possível realização de cirurgia de urgência.
O único tratamento eficaz para resolução das hérnias de parede abdominal é a cirurgia, que pode ser por via convencional ou laparoscópica, de acordo com avaliação do cirurgião.
Na maioria das cirurgias para correção de hérnias são utilizadas telas para reforço da parede abdominal.
A doença do refluxo gastroesofágico ou DRGE ocorre devido ao retorno de secreção ácida do estômago para o esôfago, causando inflamação do mesmo (esofagite). O contato prolongado da mucosa do esôfago com o suco gástrico pode provocar lesões nesse órgão e evoluir com ulcerações, metaplasia e displasia, podendo causar câncer.
Diversos fatores levam a doença do refluxo gastroesofágico. A hérnia de hiato é a causa mais comum e acontece quando parte do estômago se projeta para dentro do tórax comprometendo o funcionamento do esfíncter esofagiano inferior, válvula responsável por impedir o retorno de conteúdo gástrico ao esôfago. Outros fatores associados a DRGE são obesidade, tabagismo, gestação, alguns medicamentos como anti-inflamatórios, álcool, alimentos como café, chá, chocolate, fritura, alimentos gordurosos, entre outros.
Os principais sintomas da DRGE são azia, queimação e náuseas. Alguns pacientes podem apresentar dor torácica, tosse seca e sintomas respiratórios.
Na maioria dos pacientes, as mudanças nos hábitos de vida associadas a medicamentos são suficientes ao tratamento. A indicação de cirurgia ocorre quando há falha com tratamento medicamentoso e ou aparecem as complicações da doença.
Existem diversas técnicas para realização da fundoplicatura, como é chamada a cirurgia do refluxo gastroesofágico. A mais utilizada é a fundoplicatura a Nissen. Geralmente é feita por videolaparoscopia.
Destaca-se a doença diverticular dos cólons e o câncer colorretal.
A doença diverticular dos cólons ou diverticulose caracteriza-se pela presença de bolsas que se projetam pra fora do intestino grosso como consequência da herniação da mucosa por entre as fibras musculares da parede do intestino. É doença muito comum, principalmente entre idosos.
Os divertículos estão na maioria das vezes localizados no colón sigmóide ou no cólon esquerdo, mas podem atingir todo o cólon.
Só uma pequena parte daqueles pacientes que têm divertículos apresentam sintomas. A diverticulite aguda representa a inflamação dos divertículos. Os principais sintomas da diverticulite são a dor abdominal (habitualmente localizada no quadrante inferior esquerdo), diarréia, febre e sangramento retal. Casos mais graves de diverticulite podem ocorrer, levando a complicações como perfuração do cólon e abscessos ou fístulas para a bexiga ou vagina.
A cirurgia está indicada nos pacientes com episódios repetidos de diverticulite aguda e nos casos de complicações como estenoses ou fistulas. Nos casos graves está indicado cirurgia de urgência.
O câncer colorretal é o tumor maligno que acomete o intestino grosso ou o reto. E a terceira forma de câncer mais comum no Brasil. Pode se originar de pólipos na parede do cólon e crescem lentamente. Apesar de ocorrer em qualquer idade, o risco de se desenvolver o câncer colorretal aumenta com o envelhecimento. Felizmente, é possível prevenir e curar o câncer colorretal quando detectado precocemente.
Os fatores de risco associados ao câncer de cólon são a dieta rica em carnes vermelhas processadas (embutidos), sedentarismo, obesidade, tabagismo, álcool, pólipos, história familiar de câncer de cólon.
Os principais sintomas são o sangramento retal, anemia, alteração do hábito intestinal (prisão de ventre ou diarréia), dor abdominal, emagrecimento.
A cirurgia é a principal forma de tratamento em praticamente todos os casos de câncer colorretal. Radioterapia e quimioterapia podem ser necessárias além da cirurgia.
Cada paciente deve ser avaliado de forma individualizada e graças a novas tecnologias e técnicas cirúrgicas como a laparoscopia, a minoria dos pacientes não necessitam de colostomia durante o tratamento.
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Dr. Luiz Paulo Jacomelli
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